Silva Palma, poeta, amigo de Fialho de Almeida, natural de Beja, nasceu em 1870 tendo falecido em 1917, com apenas 47 anos de idade.
Pouco mais sei acerca deste poeta a não ser o elogio feito pelo seu próprio neto num boletim da Casa do Alentejo, de Janeiro de 1951, que do poeta diz:
“Sério, leal e honesto, senhor duma vincada personalidade e possuidor dum elevado espírito altruísta, mercê de quais qualidades enfileirou ao lado dos grandes da sua época.
Hoje porem, está esquecido porque foi um infeliz e quem conhece a sua obra bem o pode depreender.
Como poeta foi um génio e jamais li algo que tanto me empolgasse como os seus versos mas talvez que este meu desabafo sobre o artista caia a outros olhos exagerado; é natural até que me considerem suspeito por ser seu neto…“
IMPOSSIVEL
De que serve amar-te com paixão
Se não poderei nunca possuir-te,
De que me serve olhar-te e perseguir-te
Se todo o nosso amor é louco e vão
De balde, peço e rogo ao coração
Que me deixe esquecer-te p’ra fugir-te
De balde? Fatalmente hei-de seguir-te
Ó sacrossanta e lúcida visão
Quando eu te vi, um dia, mais valera
Que um riso me fulminasse, repentino,
Pois que, a sorrir, a vida então perdera.
Expiara feliz de contemplar-te,
E não ligara ao mísero destino
Este mal sem remédio de adorar-te.
CONTA CORRENTE
Guardo no peito um deve e um haver,
Os desgostos, as mágoas e as dores
Descrevo no primeiro os dissabores
Que tem torturado o meu viver
No outro pouco tenho que inscrever
Não me confia a sorte os seus valores;
Apenas pequeníssimos favores
E bem raros momentos de prazer.
Somo as duas colunas: fecho a conta
E vejo então com íntima amargura
O saldo a transportar a quanto monta…
Quer me creiam, quer não, digo a verdade,
Pois na soma total, a Desventura
É mil vezes maior que a Felicidade
DEDICATÓRIA
Peregrinei no mundo. Andei a rastos.
Calquei miséria, lodo e podridão
D’olhos serenos, contemplando os astros
Dilacerei, farpei o coração,
Na travessia aspérrima da vida
Tão cheia de emboscadas e traições
E quando a mocidade diluída
Num triste entardecer longe, me acena
O derradeiro adeus da despedida.
Reconheço afinal, com grande pena,
Que fui poeta em vez de merceeiro
Ou vendedor de sola de Alcanena…
Devendo prestar culto ao deus dinheiro
Qual cigarra cantei… chorando tanto
A miséria penúria do celeiro
Em vez de risos, pois, lego-vos pranto
Nestes versos banais, sem cor, sem brilho
Amai-os muito num enlevo santo
Amai-os como irmãos – que são meus filhos.
Pouco mais sei acerca deste poeta a não ser o elogio feito pelo seu próprio neto num boletim da Casa do Alentejo, de Janeiro de 1951, que do poeta diz:
“Sério, leal e honesto, senhor duma vincada personalidade e possuidor dum elevado espírito altruísta, mercê de quais qualidades enfileirou ao lado dos grandes da sua época.
Hoje porem, está esquecido porque foi um infeliz e quem conhece a sua obra bem o pode depreender.
Como poeta foi um génio e jamais li algo que tanto me empolgasse como os seus versos mas talvez que este meu desabafo sobre o artista caia a outros olhos exagerado; é natural até que me considerem suspeito por ser seu neto…“
IMPOSSIVEL
De que serve amar-te com paixão
Se não poderei nunca possuir-te,
De que me serve olhar-te e perseguir-te
Se todo o nosso amor é louco e vão
De balde, peço e rogo ao coração
Que me deixe esquecer-te p’ra fugir-te
De balde? Fatalmente hei-de seguir-te
Ó sacrossanta e lúcida visão
Quando eu te vi, um dia, mais valera
Que um riso me fulminasse, repentino,
Pois que, a sorrir, a vida então perdera.
Expiara feliz de contemplar-te,
E não ligara ao mísero destino
Este mal sem remédio de adorar-te.
CONTA CORRENTE
Guardo no peito um deve e um haver,
Os desgostos, as mágoas e as dores
Descrevo no primeiro os dissabores
Que tem torturado o meu viver
No outro pouco tenho que inscrever
Não me confia a sorte os seus valores;
Apenas pequeníssimos favores
E bem raros momentos de prazer.
Somo as duas colunas: fecho a conta
E vejo então com íntima amargura
O saldo a transportar a quanto monta…
Quer me creiam, quer não, digo a verdade,
Pois na soma total, a Desventura
É mil vezes maior que a Felicidade
DEDICATÓRIA
Peregrinei no mundo. Andei a rastos.
Calquei miséria, lodo e podridão
D’olhos serenos, contemplando os astros
Dilacerei, farpei o coração,
Na travessia aspérrima da vida
Tão cheia de emboscadas e traições
E quando a mocidade diluída
Num triste entardecer longe, me acena
O derradeiro adeus da despedida.
Reconheço afinal, com grande pena,
Que fui poeta em vez de merceeiro
Ou vendedor de sola de Alcanena…
Devendo prestar culto ao deus dinheiro
Qual cigarra cantei… chorando tanto
A miséria penúria do celeiro
Em vez de risos, pois, lego-vos pranto
Nestes versos banais, sem cor, sem brilho
Amai-os muito num enlevo santo
Amai-os como irmãos – que são meus filhos.
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