295 - 5ª Feira de Ascenção ou, O Dia da Espiga

O sagrado e o profano sempre, sempre interligados, a igreja substituindo a crença pagã.
A Igreja celebra a subida de Cristo aos céus, o povo porém e muitas vezes sem que saiba bem porquê, continua a celebrar a tradição pagã, agora com a compra de ramos completamente adulterados.
O Dia da Espiga dos tempos pagãos estava associado a Ceres, deusa da agricultura deusa que deu o trigo aos homens, e a Osiris, o deus-sol dos egípsios.
A espiga é o símbolo da Caridade da Abundância, do Amor, da Vida, da Saúde, da Alegria e da Paz, sendo representados por flores, plantas e ramos de árvores da seguinte forma:
As espigas de trigo representam o pão essencial à vida;
o malmequer com as suas cores branco e amarelo, o ouro e a prata, ou prosperidade;
a papoila pela sua cor de sangue representa a vida e o amor;
os ramos de oliveira, porque o azeite sendo um ingrediente que aos olhos dos antigos era um alimento essencial, é também o símbolo da luz, já que as candeias de azeite, eram a única forma de iluminação, a oliveira simboliza também a Paz.(Quem não conhece a pomba branca trazendo no bico um ramo de oliveira da história de Noé?)
Menos comum entre nós, mas que faziam parte deste conjunto de plantas são a Videira, que simboliza o vinho e a alegria e
o Alecrim, símbolo da saúde e da força.
Cada ramo continha 7 hastes de cada uma destas plantas. (7 porquê ? Porque este é considerado pelos antigos como um número mágico 7 são os dias da semana, período em que Deus criou o Mundo, 7 são as pragas do Egipto no tempo de Moisés, 7 são os céus na crença de algumas religiões, 7 são as cores do arco Íris e por ai adiante tanto no paganismo como nas diversas religiões o 7 é um número que tem o poder da transformação)
Mas voltando ao dia da espiga, conta-se que este dia era também designado por: O Dia da Hora, isto é, no dia da espiga e à hora do meio-dia dizia-se, tudo parava, os ribeiros não corriam , não se podia amassar pois o pão não levedava e lembro-me bem de querer ao meio dia estar junto de uma oliveira para ver cruzar as folhas, que de verdade ou por sugestão eu via de facto cruzarem-se.
Contas os livros antigos que era também neste dia que as sábias mulheres mais conhecidas por “bruxas”, se dirigiam aos campos para colher as plantas medicinais com as quais fabricavam unguentos e mesinhas.
Confesso que esta manhã nem me lembrava que hoje era o dia da espiga e só dei conta, quando alguém me quiz vender um ramo mal "enjarocado" que nada tinha a ver com os bonitos ramos que em criança ia apanhar ao campo, lembrei-me então de uma cantiga:
Dia da Espiga
Ói! Óai!
Esta vida é uma cantiga
Este dia de alegria
Vale um ano de aflição
Ói! Óai!
Porque é o dia da Espiga
É o arauto do dia
Em que o trigo há-de dar pão
Maria! São teus olhos azeitonas
Cachopa! São teus lábios qual cerejas
E os teus seios cachos de uvas que abandonas
À vindima desta boca que os deseja
Jorra o vinho dos pinchéis
Para os lábios das moçoilas
Mais vermelhas que papoilas
Das larachas dos Manéis
E há merendas pelos prados
Gargalhadas pelo ar
E à beirinha dos valados
Ouve a gente murmurar.
Silva Tavares

1 comentário:

Benó disse...

É um dia tão especial que já minha mãe dizia:
Neste dia, nem os passarinhos deviam sair do ninho.
Gostei de relembrar a cantiga que ouvia nos meus tempos de criança.