66 - Dia do Pai

Há conceitos e ideias que estão tão intrinsecamente arreigados a nós e à nossa maneira de pensar que quase não lhes damos importância.
Uma vez, quando era miuda, levei um cartão todo bonitinho feito por mim na escola, comemorativo do dia da mãe – ainda não se tinha inventado o comercial dia do pai - para oferecer à minha mãe que ao aceitá-lo me disse que o dia da mãe eram todos os dias.
Compreendi as suas palavras e desde esse dia deixaram de ter para mim qualquer sentido comemorar os dias da mãe, do pai ou dos filhos, pois estes devem ser todos os dias da nossa vida.
Por outro lado lemos muitas vezes nos jornais, crónicas e opiniões que depois do primeiro parágrafo logo mudamos de página, outras vezes, sentimos como que uma pancada no peito, um acorda! e damos conta como no caso presente, que era isto exactamente o que a minha mãe queria dizer.
Vem esta conversa a propósito do Editorial de hoje no jornal Destak, subscrito pela sua directora Isabel Stilwell, - escritora que muito admiro – sobre o dia que hoje se comemora: O DIA DO PAI.
Transcrevo na integra o editorial já que não consigo desagregar do contexto qualquer um dos parágrafos escritos:
Dia do pai vive-se no dia do pai afectivo e não biológico

São José tinha muita pinta, e às vezes parece que certa Igreja se esquece do que representa simbolicamente a Sagrada Família: uma mãe adolescente, com a coragem de enfrentar a gravidez, e a educação de um filho, contra toda a má língua da vizinhança, baseada apenas na sua imensa Fé; Deus, um pai «biológico», que confia a guarda de Maria e do seu filho Jesus a um pai adoptivo. E José Carpinteiro, que assume o papel de verdadeiro pai até ao fim. 2008 anos depois, não pode ser acaso (mas talvez passe mais por um desígnio celeste) que se celebra o Dia do Pai, no dia que o calendário religioso atribui a S. José. Ou seja, para todos os efeitos, no dia do pai afectivo.

Sinceramente acho fascinante ler a história por este ângulo, que me enche de orgulho, porque nela está contida uma mensagem revolucionária, que deveria fazer abanar as ideias feitas e os preconceitos de tanta gente que continua presa à ilusão de que apenas o sangue ou os genes contam. A quantidade de sofrimento que poderia ter sido evitado, e pode vir a sê-lo, se entendermos a magia deste «clã», que tem sido tantas vezes venenosamente utilizado para pregar a intolerância.

Mas é «lição» de mais coisas. É lição da importância imensa que é dada ao pai, não ao pai autoritário, mas aquele que vira a sua rotina do avesso para proteger um filho (foge com Jesus para o Egipto), que se dedica a sustentá-lo e a educá-lo, e não menos importante, a ser o braço direito da mãe, em quem confia incondicionalmente (caramba, afinal Maria «apareceu» grávida de outro!), aceitando dividir com ela uma missão quase impossível. Por isso aqui fica a minha sugestão: pendurem a imagem de S. José nos tribunais. Talvez assim se inverta a tendência para 94% dos casos atribuir o poder paternal à mãe, abrindo a porta à exclusão do pai na vida dos seus filhos. Para não falar na ajuda que dava quando o que está em causo é a opção entre um pai só biológico, e um adoptivo que se dispõe a amar, mesmo que esteja ainda numa lista de
espera.

Falta dizer que subscrevo na integra estas palavras.

1 comentário:

XICA disse...

Não sendo Isabel Stilwell uma das minhas favoritas, reconheço-lhe por este texto que eu não conhecia, e os blogs servem também para isto, uma lucidez e uma diplomacia fantástica no tratamento de questões muito sensiveis.