315 - O Poeta alentejano, José Duro

Na sequência dos artigos abaixo postados e, dado o meu hábito de ler e reler os mesmos livros vezes sem conta descobrindo neles sempre novos interesses, fixaram os meus olhos um nome que confesso, até hoje nada me dizia.
O trecho que me prendeu, na sequência da descrição do que é o Alentejo e o ser Alentejano foi o seguinte: "O Alentejo é sóbrio, austero, rude e forte. Tão forte que modelou de uma maneira bem vincada o carácter dos seus naturais. O primo poderá confundir um pouco o Minhoto com o Beirão, mas nunca poderá tomar o Alentejano por qualquer deles. Este acusa mais pronunciadamente as características da paisagem que lhe foi berço. É quase sempre uma alma forte, um temperamento tenaz, encarando a vida pelo seu lado mais sério. As suas canções são profundas, dramáticas, por vezes trágicas. Raramente aflora um sorriso nos seus versos. E na poesia erudita o poeta português mais trágico é um alentejano: José Duro.”
Perguntei a mim mesma, porque nunca tinha reparado no nome que aqui me aparecia como poeta trágico, comparado a outros poetas mais conhecidos como, António Nobre, Cesário ou Guerra Junqueiro e com influências de Baudelaire? Não descansei enquanto não pesquisei nas ensiclopédias e em Colectânias de literatura portuguesa, que me permitissem escrever sobre este Poeta Alentejano.
Do que encontrei dou agora contas:
José António Duro Jr, nasceu em Portalegre em 22 de Outubro de 1875 e morreu, tuberculoso, em Lisboa, a 18 de Janeiro de 1899. Alegadamente filho de pais incógnitos, embora se tenha conhecimento ser filho de José António Duro, Industrial e da operária de lanifícios Maria da Assunção Cardoso.
Frequentou em Lisboa a Escola Politécnica e era assiduo nas tertúlias que tinham lugar em alguns dos cafés lisboetas. Morreu com apenas 25 anos como não era raro naquela época em que imperava a tuberculose que por sinal, levaria desta vida o acima citado Cesário Verde.
O seu livro «Fel» (1898) vale, assim, como documento humano pungente, que só se impõe pela veemência da dor e a autenticidade do desespero.
Eis alguns poemas:
TÉDIO

Ando às vezes boçal e sinto-me incapaz
De encontrar uma rima ou produzir um verso;
Fazendo de mim mesmo a ideia de um perverso
Capaz de apunhalar à luz do gás.

Incomoda-me a Cor, o sangue do Poente
- Waterloo rubro de que o sol é Bonaparte -;
Não compreendo, Mulher, como inda posso amar-te
Se tenho raiva, muita raiva a toda a gente.

‘Té onde a vista alcança alargo o meu olhar,
E creio quanto existe uma nódoa escura
Que as lágrimas do Choro hão de jamais lavar...

Estranha concepção! Abranjo o mundo todo
E em cada estrela vejo a mesma lama impura,
E em cada boca rubra o mesmo impuro lodo!
Em Busca

Ponho os olhos em mim, como se olhasse um estranho,
E choro de me ver tão outro, tão mudado…
Sem desvendar a causa, o íntimo cuidado
Que sofro do meu mal — o mal de que provenho.

Já não sou aquele Eu do tempo que é passado,
Pastor das ilusões perdi o meu rebanho,
Não sei do meu amor, saúde não na tenho,
E a vida sem saúde é um sofrer dobrado.

A minh’alma rasgou-ma o trágico Desgosto
Nas silvas do abandono, à hora do sol-posto,
Quando o azul começa a diluir-se em astros…

E à beira do caminho, até lá muito longe,
Como um mendigo só, como um sombrio monge,
Anda o meu coração em busca dos seus rastros…

2 comentários:

Domenico Condito disse...

Olá Susete

Obrigado por me ter dado a possibilidade de conhecer o Poeta Alentejano, José Duro.
Gostei muito da descrição do que é o Alentejo e o ser Alentejano. Espero um dia poder visitar a sua magnifica Terra!
Também agradeço-lhe imenso o comentário que deixou no “Utopie calabresi” ao post: “Miguel Urbano Rodrigues na SIC Notícias - 4 de Junho de 2008”. É verdade. Miguel Urbano Rodrigues è um grande HUMANISTA! Estou em busca do seu ultimo livro «Meditação Descontínua sobre o Envelhecimento», para publicar uma recensão em italiano no meu blog.
Espero encontra-lo em Itália.

Um abraço

BOGA E AXIGÃ disse...

Gosto em geral, mas gosto deste post em particular.
rebêradas alentejanas