Na sequência dos artigos abaixo postados e, dado o meu hábito de ler e reler os mesmos livros vezes sem conta descobrindo neles sempre novos interesses, fixaram os meus olhos um nome que confesso, até hoje nada me dizia.O trecho que me prendeu, na sequência da descrição do que é o Alentejo e o ser Alentejano foi o seguinte: "O Alentejo é sóbrio, austero, rude e forte. Tão forte que modelou de uma maneira bem vincada o carácter dos seus naturais. O primo poderá confundir um pouco o Minhoto com o Beirão, mas nunca poderá tomar o Alentejano por qualquer deles. Este acusa mais pronunciadamente as características da paisagem que lhe foi berço. É quase sempre uma alma forte, um temperamento tenaz, encarando a vida pelo seu lado mais sério. As suas canções são profundas, dramáticas, por vezes trágicas. Raramente aflora um sorriso nos seus versos. E na poesia erudita o poeta português mais trágico é um alentejano: José Duro.”
Perguntei a mim mesma, porque nunca tinha reparado no nome que aqui me aparecia como poeta trágico, comparado a outros poetas mais conhecidos como, António Nobre, Cesário ou Guerra Junqueiro e com influências de Baudelaire? Não descansei enquanto não pesquisei nas ensiclopédias e em Colectânias de literatura portuguesa, que me permitissem escrever sobre este Poeta Alentejano.
Do que encontrei dou agora contas:
José António Duro Jr, nasceu em Portalegre em 22 de Outubro de 1875 e morreu, tuberculoso, em Lisboa, a 18 de Janeiro de 1899. Alegadamente filho de pais incógnitos, embora se tenha conhecimento ser filho de José António Duro, Industrial e da operária de lanifícios Maria da Assunção Cardoso.
Frequentou em Lisboa a Escola Politécnica e era assiduo nas tertúlias que tinham lugar em alguns dos cafés lisboetas. Morreu com apenas 25 anos como não era raro naquela época em que imperava a tuberculose que por sinal, levaria desta vida o acima citado Cesário Verde.
O seu livro «Fel» (1898) vale, assim, como documento humano pungente, que só se impõe pela veemência da dor e a autenticidade do desespero.
Eis alguns poemas:
TÉDIO
Ando às vezes boçal e sinto-me incapaz
De encontrar uma rima ou produzir um verso;
Fazendo de mim mesmo a ideia de um perverso
Capaz de apunhalar à luz do gás.
Incomoda-me a Cor, o sangue do Poente
- Waterloo rubro de que o sol é Bonaparte -;
Não compreendo, Mulher, como inda posso amar-te
Se tenho raiva, muita raiva a toda a gente.
‘Té onde a vista alcança alargo o meu olhar,
E creio quanto existe uma nódoa escura
Que as lágrimas do Choro hão de jamais lavar...
Estranha concepção! Abranjo o mundo todo
E em cada estrela vejo a mesma lama impura,
E em cada boca rubra o mesmo impuro lodo!
Em Busca
Ponho os olhos em mim, como se olhasse um estranho,
E choro de me ver tão outro, tão mudado…
Sem desvendar a causa, o íntimo cuidado
Que sofro do meu mal — o mal de que provenho.
Já não sou aquele Eu do tempo que é passado,
Pastor das ilusões perdi o meu rebanho,
Não sei do meu amor, saúde não na tenho,
E a vida sem saúde é um sofrer dobrado.
A minh’alma rasgou-ma o trágico Desgosto
Nas silvas do abandono, à hora do sol-posto,
Quando o azul começa a diluir-se em astros…
E à beira do caminho, até lá muito longe,
Como um mendigo só, como um sombrio monge,
Anda o meu coração em busca dos seus rastros…
Ponho os olhos em mim, como se olhasse um estranho,
E choro de me ver tão outro, tão mudado…
Sem desvendar a causa, o íntimo cuidado
Que sofro do meu mal — o mal de que provenho.
Já não sou aquele Eu do tempo que é passado,
Pastor das ilusões perdi o meu rebanho,
Não sei do meu amor, saúde não na tenho,
E a vida sem saúde é um sofrer dobrado.
A minh’alma rasgou-ma o trágico Desgosto
Nas silvas do abandono, à hora do sol-posto,
Quando o azul começa a diluir-se em astros…
E à beira do caminho, até lá muito longe,
Como um mendigo só, como um sombrio monge,
Anda o meu coração em busca dos seus rastros…
2 comentários:
Olá Susete
Obrigado por me ter dado a possibilidade de conhecer o Poeta Alentejano, José Duro.
Gostei muito da descrição do que é o Alentejo e o ser Alentejano. Espero um dia poder visitar a sua magnifica Terra!
Também agradeço-lhe imenso o comentário que deixou no “Utopie calabresi” ao post: “Miguel Urbano Rodrigues na SIC Notícias - 4 de Junho de 2008”. É verdade. Miguel Urbano Rodrigues è um grande HUMANISTA! Estou em busca do seu ultimo livro «Meditação Descontínua sobre o Envelhecimento», para publicar uma recensão em italiano no meu blog.
Espero encontra-lo em Itália.
Um abraço
Gosto em geral, mas gosto deste post em particular.
rebêradas alentejanas
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