85 - Ary dos Santos




POETA CASTRADO, NÃO !

Serei tudo o que disserem
por inveja e negação;
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

Os que entenderem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegar a poesia
quando ela nos envenena.

Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:

Da fome já não se fala
- é tão vulgar que nos cansa –
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança ?

Do frio não reza a história
- a morte é branda e letal –
mas que dizer da memória
de uma bonba de napalm ?

E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
- Um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
- Ah não me venham dizer
Que é fonética a poesia!

Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não !

2 comentários:

XICA disse...

Aquelas cabecinhas com muita nhãnha, que assistiam ontem ao espectáculo, ocorreu-me, que para além de tudo o resto que lhes passou pela dita cuja, um dos pensamentos, deve ter sido, a título de interrogação, "mas porqué qu´estes gajos bons da nossa cultura sã todos COMUNAS"

Susete Evaristo disse...

É a festa pá, como diria Chico Buarque, é a festa pá. Na verdade eu também pensei estes homens e mulheres todos Comunas só podia dar uma festa assim. Embora estivessem por lá alguns infiltrados poucos(ditos de esquerda), sem expressão.